#25 Resenha: Isle of Armor
Banner do texto 25 com título ("Resenha: Isle of Armor") e identificação do Twitter (NEscapism). Foto de fundo: arte principal de Isle of Armor, com as duas formas de Urshifu. |
#25 Resenha: Isle of Armor
No começo do ano de 2020 foram anunciadas novidades para os jogos Pokémon Sword e Pokémon Shield (2019), os primeiros jogos da franquia para o Nintendo Switch. Como pode-se observar pela extensa cobertura deles aqui nesse blog, os ânimos para a apresentação ficaram lá em cima. No dia 09 de Janeiro, saiu a notícia que um pacote de Downloadable Content (DLC) chamado Expansion Pass seria lançada ao longo do ano em duas partes diferentes. A primeira delas, Isle of Armor, foi lançada oficialmente no dia 17 de Junho e conta com o tema principal de "crescimento". Além de introduzir um território novo ao mapa de Galar, foram adicionados novos personagens e alguns outros conteúdos inéditos.
Mantendo o meu comprometimento com essa era de Pokémon, venho aqui compartilhar minhas opiniões não solicitadas sobre a versão de Pokémon Shield para Isle of Armor, assim como pretendo fazer com a segunda parte da Expansion Pass, Crown Tundra, depois de seu lançamento no dia 22 de Outubro de 2020.
Falando sobre as primeiras impressões, o início da história de Isle of Armor é hilário. O fato de que ninguém conhecia o novo campeão da região ao lado me proporcionou muitas risadas no começo das interações com os personagens novos. E acredito que seja importante destacar os três personagens "principais" da expansão:
O primeiro a ser encontrado é Avery, dono de um carisma bem peculiar, com o qual eu me afeiçoei após acompanhar sua história de esforço e trabalho duro (apesar da falta de empatia dele pelos protagonistas). Sua narrativa é engajante e motivadora, trazendo um pouco do aluno que era muito bom mas perdeu contato com a realidade por causa da soberba. Mostra que o trabalho duro vale bem mais do que habilidades "inatas".
A pedra angular (humana) da narrativa, entretanto, é o mestre Mustard. É com esse personagem que o tema de crescimento se desenvolve, já que ele serve de mentor pessoal para os protagonistas conseguirem superar o seu nível já alto de treinamento. Muito carinhoso com seus pupilos, Mustard também é um dos personagens mais exigentes do jogo, tanto nos diálogos como nas batalhas. Ele possui vários elementos que representam um mestre de artes marciais que são muito interessante de prestar atenção. Dos seus trejeitos até a sua trajetória como personagem histórico da região de Galar, é o mentor perfeito para organizar a história com o tema de "crescimento" nesse ponto da vida dos protagonistas.
Por fim, Honey, a esposa de Mustard, trabalha gerenciando o Dojo onde os jogadores e muitos outros personagens secundários treinam. Todo o seu carisma fez com que ela se tornasse uma das minhas personagens favoritas e, mesmo sendo quase uma sidequest, apresenta um papel central na vida cotidiana da ilha ao oferecer reformas no Dojo. Mesmo tendo que entregar uma grande quantia de watts ao conserto do Dojo, era sempre uma boa surpresa poder conhecer mais Honey através de diálogos secundários. Forte e determinada, ela sempre busca melhorar a vida dos que estão a sua volta, promovendo um subtema de "comunidade" dentro da história.
Além dos personagens novos, existem menções e aparições daqueles que já conhecemos da aventura passada, e entre todas elas eu gostaria de dar um destaque ao fato de que Leon teria se perdido antes de completar o desafio final. Esse traço de personalidade sempre me faz rir muito e é bom que a piada não tenha se perdido na nova fase do jogo.
As adições dos Pokémon são outra parte que merece ser mencionada. A narrativa envolta do Kubfu é muito fofa e apresenta uma perspectiva diferente de crescimento. Essa interação entre Kubfu e jogador(a) me lembrou bastante da relação que Ash desenvolveu com vários Pokémon míticos/lendários nos filmes da franquia. Ao invés de só tentar forçar uma escalada nas habilidades, o jogo mostra que ajudar no crescimento alheio também é uma forma de se desenvolver. Os outros Pokémon inéditos, Urshifu e Zarude, causaram um impacto considerável no mundo competitivo, junto com as adições da Pokédex, a maioria muito bem selecionada.
A ilha em si é uma das minhas partes favoritas de Isle of Armor. Explorar os diferentes ambientes me rendeu algumas surpresas: existem mais interações de perseguição, mais comportamentos independentes e uma diversidade muito grande encontrada na maioria dos ambientes. No começo, eu até me perdia tentando explorar cada centímetro disponível nas cavernas e floresta da ilha. Apesar de ter demorado um pouco até que eu pudesse traçar um caminho entre todos os wild spots novos, é muito interessante visitar ambientes tão diferentes em um espaço tão curto. A Wild Area de Isle of Armor traz consigo o que a do jogo original falta: ser diversa. Procurando maximizar o espaço disponível, temos praias, gramados, cavernas, pântanos, florestas, montanhas, desertos e áreas marinhas recheadas de vida. As interações orgânicas também aumentam o efeito expansivo da ilha. Em outros aspectos técnicos, a música é muito envolvente e adiciona na ambientação da aventura.
Entrando em uma discussão mais “meta”: de todas as mudanças que aconteceram em Pokémon Sword e Pokémon Shield, acredito que a presença de DLCs ao invés de um possível terceira versão (algo que o vídeo de anúncio faz menção) foi uma das que me deixou mais animado no começo. Eu acredito que, além de acabar com a política esquisita de recolocar um jogo recente no mercado com uma mínima roupagem nova, esse método permite estender a vida de um jogo já existente e dá a possibilidade de atualizar mais o material já lançado. Em tese, pelo menos.
Por custar menos do que um jogo inteiro, eu já tinha em mente que não teríamos mais do que uma dúzia de novidades, mas o que me decepcionou foi a falta de criatividade. Mesmo que Isle of Armor continuasse sendo do jeito que está, a Expansion Pass poderia ter outras atualizações menores. Talvez alguns patches que dessem conta da parte mais técnica, ou que adicionasse Pokémon antigos de forma gratuita. Talvez novos treinadores poderiam aparecer com atualizações diferentes, deixando os desafios do Dojo mais animados com o passar do tempo e esgotando os tipos que ainda não possuem treinadores (Normal, Flying, Ground, Bug, Steel e Electric). Pensar nessa possibilidade em particular me faz refletir na chance perdida de experimentar o tema da expansão, pois mesmo tendo percebido os elementos de crescimento durante a história, eles ficaram muito mais nos diálogos e no marketing do que na experiência dos jogos em si, o que mostra uma falta de preocupação com a regra do "mostre, não conte".
Como qualquer coisa produzida na franquia, Isle of Armor não foi feito nos últimos meses. Apesar de não poder contar com nenhuma fonte, eu acredito que a expansão foi planejada antes do lançamento dos jogos originais. Digo isso porque praticamente não houve alterações que pudessem significar uma vontade de melhorar em relação às críticas feitas aos jogos pelo público. A única coisa que pode ter sido feita com os fãs em mente é a adição da mecânica de ter seu parceiro fora da Pokébola, que não teve uma execução de altíssima qualidade.
Sem me aprofundar muito em um ponto de discussão que eu não domino e muitas vezes não presto muita atenção, a parte gráfica de Isle of Armor não é tão interessante quanto o (pouco) conteúdo disponível. Esse é um erro que eu deixei de falar na resenha sobre Pokémon Shield, porém agora percebo que afeta muito mais a qualidade do produto do que eu esperava. Sim, as animações novas da Wild Area são legais e personalizadas, mas muitos modelos continuam entrando um dentro do outro; alguns movimentos em batalhas tem a mesma animação de gerações anteriores ou são simplórios demais; e a mecânica de andar com seus parceiros têm um efeito sanfona bizarro quando os Pokémon são muito lentos ou muito rápidos em contraste com o personagem do jogador (que se movimenta em uma velocidade constante).
O que eu pude perceber não muito tempo depois de ter começado a jogar é que o conteúdo inédito parece não estar de acordo com o preço do Expansion Pass (metade do preço dos jogos originais). Mesmo pagando só metade do valor, eu não ficaria confortável em escrever "vale muito a pena" nessa resenha porque simplesmente não tenho provas o suficiente para argumentar a favor. É uma contradição muito desagradável opinar a favor de uma DLC ao invés de um Pokémon Gun e ao mesmo tempo ter que admitir que a primeira tentativa de DLC não foi boa o suficiente para valer o preço cobrado.
O que me deixou mais desanimado foi o tanto de conteúdo inédito adquirido. Todos os elementos prometidos na tabela do site oficial foram adicionados ao jogo, mas não foram todos que tiveram sucesso na sua introdução. Um exemplo é a mecânica de Restricted Sparring, com o conceito extremamente desafiador do Battle Hall (Pokémon Platinum, Pokémon HeartGold e Pokémon SoulSilver), que ficou em segundo plano nas novidades de Isle of Armor. Para minha infelicidade (o porquê pode ser lido na segunda parte da resenha de Pokémon Shield), foram adicionadas somente 3 espécies inéditos (contando que uma delas possui duas formas diferentes) e 2 formas regionais (1 já tinha sido revelada como parte do marketing). Entretanto, os 18 movimentos novos foram um dos únicos acertos nesse quesito, e a criatividade nos seus efeitos é muito bem vinda para o campo competitivo. As formas Gigantamax, a mecânica especial da vez, tiveram até um bom número de adições para metade da Expansion Pass: 7.
Isle of Armor conta com uma história de aquecer o coração e seus personagens são muito divertidos. Nas poucas horas de narrativa principal, a primeira parte do Expansion Pass tenta cumprir o seu tema de crescimento com diálogos e situações, e ainda opta por adicionar a importância da comunidade como tema secundário. A DLC também pode ser aplaudida por conseguir criar um mundo ainda mais vivo e explorável do que os jogos originais, Pokémon Sword e Pokémon Shield. Sendo possível explorar ainda mais o potencial dos jogos base de novas gerações, a ideia de Expansion Pass pode estender a vida útil de um jogo de Pokémon por muito mais tempo do que o esperado. Entretanto, a qualidade do produto é quem define o sucesso dessa operação.
Olhando além da superfície amigável apresentada, Isle of Armor conta com os mesmo problemas dos jogos originais e ainda expande escolhas que desagradaram os fãs. Por fim, o que mais me desagradou é o preço alto demais para poucas novidades e um planejamento não inteligente do universo de Pokémon Sword e Pokémon Shield. De forma resumida, Isle of Armor poderia ter sido parte do post game ou uma atualização grátis. Cabe saber se Crown Tundra salvará o empreendimento, mas não é muito saudável ter expectativas altas em relação a isso.
Comentários
Postar um comentário